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Sistema de Monitoramento de Seca para o Brasil – Agosto/2019

1) Índice Integrado de Seca – IIS

Figura 1 – Índice Integrado de Seca (IIS) e duração de eventos de seca para o Brasil referente ao mês de agosto de 2019.

 

De acordo com o Índice Integrado de Secas (IIS) para o mês de agosto, em grande parte do país são observadas condições de seca variando de fraca à severa. Em relação ao mês de julho, o índice aponta intensificação de seca principalmente nas regiões Sul e Centro-Oeste. No Centro-oeste do país a seca variou entre as categorias de fraca à severa. Na região Sul, o estado do Paraná foi o mais afetado, somando aproximadamente 35 mil km2 de área com condição de secas moderada à severa.

Conforme o Boletim da Safra de Grãos produzido pela Companhia Nacional de Abastecimento (https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos), a recente estiagem na Região Sul do país que se estendeu ao longo de agosto contribuiu para a ocorrência de prejuízos no desenvolvimento das lavouras de trigo, além de perdas, no Paraná e no Rio Grande do Sul – principais estados produtores do país.

Diversos municípios do norte e leste do Estado de Minas Gerais foram afetados pela estiagem dos últimos meses que ocasionou a diminuição do nível de água e da vazão de barragens e rios com prejuízos ao abastecimento, como os municípios de Campanário e Brasília de Minas, onde houve a necessidade de rodízio no fornecimento de água à população no mês de agosto de 2019, conforme informado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais – Copasa (http://www.copasa.com.br).

Enquanto em Goiás houve redução drástica de vazão do Rio Meia Ponte, que tem grande importância no abastecimento de água da cidade de Goiânia e de outras cidades da Região Metropolitana. Diante do risco de redução da disponibilidade hídrica para o abastecimento, algumas medidas têm sido tomadas visando à continuidade do fornecimento de água para a população e as atividades de setores produtivos como a agropecuária e a indústria, tais como a determinação da irrigação em período noturno pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e a aprovação do Plano de Racionamento de Abastecimento de Água proposto pela Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago), o qual prevê o rodízio na região metropolitana caso o nível do rio continue caindo.

2) Impactos na Vegetação: Áreas com condição de estresse hídrico

A avaliação dos impactos do déficit hídrico na vegetação para o mês de agosto foi realizada por meio do Índice de Saúde da vegetação (VHI). A condição de estresse hídrico acontece quando a água armazenada no solo é insuficiente para sustentar o crescimento vegetal. As regiões Norte e Nordeste são as que apresentaram as maiores áreas de vegetação em condição de estresse hídrico, totalizando 736.876 km² (19% do N) e 447862 km² (30% do NE). Na região Sudeste, houve uma redução das áreas em condição de estresse hídrico e estas representam um total de 223.084 km² (24% do SE) de área afetada.

A condição de seca vegetativa prolongada (por vários meses, por exemplo) pode causar impactos nas reservas hídricas superficiais e até subterrâneas, podendo ocasionar escassez hídrica. Este fenômeno refere-se às incompatibilidades da oferta hídrica (armazenamento de água) em atender todas as demandas hídricas (abastecimento público, usos industriais, irrigação, entre outros).

Figura 2 – Vegetação impactada pela seca no mês de agosto, de acordo com o índice VHI (VHI< 30: Condições de seca moderada a excepcional).

 

Figure 3 – Estimativa de área vegetada afetada pela seca considerando as categorias de seca moderada à excepcional (VHI < 30)

 

3) Impactos Hidrológicos 

A figura 4 apresenta o Índice Integrado de Seca (IIS) para as regiões Sudeste e Centro-Oeste do país. É possível observar condição normal a condição de seca moderada nas bacias afluentes ao reservatório da usina hidrelétrica (UHE) de Serra da Mesa, sub-bacia do rio Tocantins, localizado no Centro Oeste do país e condição normal a seca fraca nas bacias afluentes ao reservatório da UHE de Três Marias, sub-bacia do rio São Francisco, no sudeste do país. Apesar de grande área de drenagem apresentar condição normal, do ponto de vista do IIS, estes reservatórios vêm enfrentando chuvas abaixo da climatologia há alguns anos, o que tem causado impactos em suas reservas hídricas. No sistema Cantareira, também no Sudeste do país, nota-se uma condição de normalidade em toda sua bacia de drenagem, entretanto, assim como outros reservatórios dessa região, vem enfrentando chuvas abaixo da climatologia há alguns anos.

Figura 4 – Índice Integrado de Seca (IIS) para parte das regiões Sudeste e Centro Oeste do Brasil referente ao mês de agosto de 2019. Destaque para as bacias de drenagem das Usinas hidrelétricas de Serra da Mesa (polígono azul), Três Marias (polígono magenta) e para as bacias do Sistema Cantareira (polígono verde). A localização dos reservatórios é representada pelo símbolo do triângulo.

 

O Sistema Cantareira, responsáveis pelo abastecimento de cerca de 7,4 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, apresentou, no dia 04 de setembro de 2019, um armazenamento de 50,2% do seu volume útil, enquadrando-se na faixa de operação de atenção (entre 40 e 60% de armazenamento), de acordo com a Resolução Conjunta ANA/DAEE Nº 925. No mês de agosto de 2019, a vazão média afluente a estes reservatórios foi de 11,5 m³/s, o que representa 53% da média histórica para este mês (22 m³/s). Na figura 5 apresentam-se as vazões médias mensais observadas nos últimos meses e, na sequência, projeções de vazão, em função de cenários de precipitação, com horizonte até o final da próxima estação chuvosa, isto é, março de 2020. Considerando um cenário hipotético de chuvas em torno da média climatológica, a projeção de vazão afluente indica situação também em torno da média histórica, aproximadamente 94%, para os próximos meses.

 

Figura 5 – Projeções de vazão média mensal (em m³/s) afluente ao Sistema Cantareira (linhas tracejadas), para os cenários de precipitação: 50% (verde) e 25% abaixo da média climatológica (azul claro); na média climatológica (cinza); 25% acima da média climatológica (azul escuro); e cenário crítico (2013/2014) (laranja). As linhas continuas representam as vazões médias mensais observadas, de acordo com a SABESP: média histórica (preto); mínimas (marrom); de abril de 2018 a março de 2019 (magenta); e de abril a agosto de 2019 (roxo).

 

O reservatório da UHE de Três Marias, localizado na porção alta da bacia do Rio São Francisco, na região Sudeste, operou em 31 de agosto, com 67,8% de seu volume útil armazenado. Este reservatório tem apresentado importância para esta bacia, contribuindo para a manutenção das vazões e das reservas hídricas nos trechos a sua jusante, principalmente para o reservatório de Sobradinho. Na figura 5 apresentam-se as vazões médias mensais observadas nos últimos meses e, na sequência, projeções de vazão, em função de cenários de precipitação, para os próximos meses. No mês de agosto de 2019, a vazão média afluente a este reservatório foi de 130 m³/s, o que representa 66% da média histórica para este mês (196 m³/s). Os cenários simulados para este reservatório, no período de setembro a dezembro de 2019, sugerem que considerando precipitações em torno da média climatológica, a vasão média seria de 326 m³/s, aproximadamente, o que representa 67% da média histórica desse período (487 m³/s).

 

Figura 6 – Projeções de vazão média mensal (em m³/s) para o aproveitamento Hidrelétrico de Três Marias (linhas tracejadas), para os cenários de precipitação: 25% abaixo da média climatológica (azul claro); na média climatológica (cinza); 25% acima da média climatológica (azul escuro); e crítica, representada pela série de precipitação ocorrida entre setembro a dezembro de 1990 (laranja). As linhas espessas representam as vazões médias mensais observadas, de acordo com o ONS: histórica (preto); mínimas (marrom); de janeiro a dezembro de 2018 (magenta); e de janeiro a agosto de 2019 (roxo).

O reservatório da UHE de Serra da Mesa, localizado na porção alta da bacia do rio Tocantins, apresentou 20% do seu volume útil armazenado no dia 31 de agosto de 2019. Este reservatório tem como objetivo, além de outros usos, regularizar a vazão do rio principal e contribuir para o abastecimento de reservatórios localizados no rio Tocantins, a jusante de Serra da Mesa, e vem enfrentando desde 2015 condições hidro-meteorológicas desfavoráveis. No mês de agosto de 2019, a vazão média afluente a este reservatório foi de 142 m³/s, o que representa 69% da média histórica para este mês (207 m³/s). Na figura 7 apresentam-se as vazões médias mensais observadas nos últimos meses e, na sequência, projeções de vazão, em função de cenários de precipitação, para os próximos meses. A projeção de vazão para este reservatório para os próximos meses, considerando um cenário hipotético de precipitações em torno da média climatológica, indica vazão média de, aproximadamente, 441 m³/s, equivalente a 93% da MLT do período (476 m³/s).

 

Figura 7 – Projeções de vazão média mensal (em m³/s) para o aproveitamento Hidrelétrico de Serra da Mesa (linhas tracejadas), para os cenários de precipitação: 25% abaixo da média climatológica (azul claro); na média climatológica (cinza); 25% acima da média climatológica (verde); e cenário crítico (laranja). As linhas espessas representam as vazões médias mensais observadas, de acordo com o ONS: histórica (preto); mínimas (marrom); série de 2018 (magenta); e de janeiro a agosto de 2019 (roxo).

 

A figura 8 apresenta o Índice Integrado de Seca (IIS) para a região Nordeste do país. Nas bacias afluentes ao reservatório Epitácio Pessoa (Boqueirão) na Paraíba, nota-se uma condição normal com relação à análise de seca agrícola, no mês de agosto. Para esse mesmo período, nas bacias afluentes ao reservatório Castanhão, no Ceará, nota-se, em algumas áreas, condição de seca normal à severa. Ambos os reservatórios se encontram em situação de escassez hídrica ou de redução acentuada de suas reservas nos últimos anos.

 

Figura 8 – Índice Integrado de Seca (IIS) para região Nordeste referente ao mês de agosto de 2019. Destaque para as bacias de drenagem do reservatório Epitácio Pessoa (Boqueirão) na Paraíba (polígono azul), e do reservatório Castanhão (polígono magenta) no Ceará. A localização dos reservatórios é representada pelo símbolo do triângulo.

 

Os valores de água armazenada nos açudes da região semiárida do Nordeste permanecem críticos. O reservatório (açude) Epitácio Pessoa/Boqueirão, localizado na porção sudeste do estado da Paraíba, apresentou, no dia 31 de agosto de 2019, aproximadamente 21% do seu volume útil armazenado (Figura 9). Este reservatório, que abastece a cidade de Campina Grande e outros dezoito municípios paraibanos (cerca de 700 mil habitantes), está enfrentando condições hidro-meteorológicas desfavoráveis desde 2012, o que vem reduzindo seu volume armazenado.

 

Figura 9 – Volume diário armazenado (em %) para o reservatório Epitácio Pessoa, entre janeiro de 1993 a agosto de 2019, de acordo com o Sistema de Acompanhamento de Reservatórios (SAR/ANA).

O reservatório Castanhão, maior reservatório (açude) do Nordeste, com capacidade de 6,7 bilhões de m3 de água, localizado no estado do Ceará, operou no dia 31 de agosto de 2019 com um volume armazenado de apenas 4,6% de sua capacidade total (Figura 10). Este reservatório, que abastece oito cidades no Vale do Jaguaribe, além da região da Grande Fortaleza e regiões vizinhas (cerca de 4,6 milhões de habitantes), também vem enfrentando condições hidro-meteorológicas desfavoráveis desde 2012, ocasionando uma redução acentuada do seu volume armazenado.

Figura 10 – Volume diário armazenado (em %) para o reservatório Castanhão, entre janeiro de 2005 a agosto de 2019, de acordo com o Sistema de Acompanhamento de Reservatórios (SAR/ANA).

REGISTRO DE IMPACTOS: Gostaria de contribuir registrando ocorrência de eventos de secas no seu município?  Sua informação é bem-vinda,  mesmo  ocorrências  de pequenos impactos são de extrema importância para avaliar a qualidade do monitoramento e avaliação de secas do Cemaden. Por gentileza, preencha o breve questionário no link: REGISTRO DE IMPACTOS DE SECAS 

 

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