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Mudanças na intensidade da chuva e de períodos secos são identificadas na bacia amazônica

Uma pesquisa recente publicada na revista científica internacional “Climate Dynamics”  documentou mudanças significativas na intensidade das chuvas na bacia amazônica,  região que abrange uma área de mais de 6 milhões de quilômetros quadrados, abrigando a maior floresta tropical do mundo.  O estudo desenvolvido por pesquisadores do Peru, França e Brasil mostra que chuvas fortes são muito mais frequentes no norte da bacia (que inclui o norte da Amazônia peruana e o norte da Amazônia do Brasil), principalmente, na temporada de março a maio.

O pesquisador e climatologista José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – um dos autores da pesquisa – destaca que, tanto no sul da bacia amazônica, especialmente na parte boliviana, como no sul da Amazônia brasileira foi identificada uma diferença entre as chuvas e dias secos, em comparação com as ocorrências ao norte da bacia amazônica.

No sul da bacia Amazônica e da Amazônia brasileira, durante as quase quatro décadas de análise, ocorreu o aumento significativo no número de dias secos, principalmente, na estação de setembro a novembro. Houve a queda de 18% da precipitação no final da estação seca, nesse período, estendendo-se esta temporada da estação seca no sul da bacia.

“Isso significa que o início da estação chuvosa no sul da Amazônia atrasou quase 1,5 meses, desde a década de 1970. Esse atraso é maior durante os anos de seca extrema, como as secas ocorridas nos anos de 2005, 2010 e, recentemente, em 2016.”, afirma o pesquisador José A. Marengo. Ele explica que o atraso das chuvas e a seca ocorrem devido ao aumento na subsidência atmosférica de altos níveis em direção ao sul da bacia. “Isso inibe o desenvolvimento da atividade convectiva e produz mudanças na circulação atmosférica regional.”, afirma o pesquisador.

As chuvas convectivas são causadas pelo movimento de massas de ar mais quentes que sobem e condensam. Ocorrem, principalmente, devido à diferença de temperatura nas camadas próximas da atmosfera terrestre. São caracterizadas por serem de curta duração, porém de alta intensidade e abrangem pequenas áreas. “Por outro lado, não podemos ignorar o possível papel das mudanças no uso da terra e nas variações de precipitação, documentadas nas últimas décadas no sul da Amazônia.”, enfatiza o pesquisador Marengo.

Norte da Amazônia : aumento das chuvas e impactos na região

Já ao norte da Amazônia,  nas duas primeiras década do século XX, o limiar de 900 mm de chuvas acumuladas ocorreu apenas em quatro anos. No entanto, desde de 1999, esse limiar excedeu em 14 vezes, no período de março a maio.

O coordenador da pesquisa, Jhan Carlo Espinoza, do Instituto Geofísico do Peru (IGP), explica que, no período entre 1981 a 2017, essas alterações apresentaram um aumento de 17% no total de precipitação da temporada, ao norte da Amazônia. Para ele, essas mudanças na intensidade das chuvas estão associadas com o aquecimento do Oceano Atlântico tropical, que produz uma entrada de massas de ar úmidas do norte da bacia, criando ou que causam aumento da atividade convectiva na região.

A pesquisadora Josyane Ronchail, do Laboratório de Oceanografia e do Clima: Experimentos e abordagens digitais (LOCEAN), de Paris (França) afirma que as mudanças na precipitação relatadas no estudo impactaram, significativamente, o ciclo hidrológico da bacia amazônica, ocasionando inundações mais frequentes ao norte da região, o que afeta as populações locais. A pesquisadora explica que as secas mais intensas e prolongadas são observadas no sul da bacia. Isso produz um forte impacto sobre a floresta, mais propenso a diminuir sua atividade fotossintética e até mesmo a intensificar os incêndios florestais.

A pesquisa intitutilada “Contrasting North–South changes in Amazon wet-day and dry-day frequency and related atmospheric features (1981–2017)”, publicada na revista internacional Climate Dynamics, está disponibilidada pelo endereço :  doi: 10.1007/s00382-018-4462-2

(Fonte: Ascom-Cemaden)

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