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Boletim de impactos em áreas estratégicas para o Brasil – 07/10/2020

SUMÁRIO

A presente edição do Boletim Mensal de Impactos em Atividades Estratégicas para o Brasil, elaborado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), apresenta a Avaliação das Ocorrências e Alertas para Desastres Naturais (inundações, enxurradas e movimento de massa) para o mês de setembro 2020 e o Diagnóstico e Cenários dos extremos pluviométricos (secas e inundações) e seus impactos em diferentes setores econômicos do Brasil.

No mês de setembro de 2020 foram enviados pela Sala de Situação do Cemaden 43 alertas, com 10 ocorrências registradas em municípios monitorados, sendo 5 de risco geológico e 5 de risco hidrológico.

Na região central do Brasil e oeste da Região Sul, os níveis dos rios encontram-se com valores abaixo da média para o período. Por outro lado, no leste da Região Sudeste e do Nordeste do País várias estações apresentam níveis dos rios na média ou acima da média climatológica para essa época do ano. A previsão sazonal para o trimestre de Outubro-Novembro-Dezembro (OND) pelo modelo GloFAS apresenta tendência de vazões acima da média para o Rio Madeira, no trecho de Porto Velho-RO, desde meados de outubro até o final de dezembro. Associado a previsão climática que indica chuva acima do normal para o estado de Rondônia, esse rio merece atenção ao longo do presente trimestre.

O Índice Integrado de Seca (IIS) para o mês de setembro, se comparado ao do mês de agosto, aponta a intensificação da seca principalmente na região Centro-Oeste e no estado de São Paulo. De acordo com cenários de IIS para o mês de outubro, condições de seca podem permanecer em parte dos estados do Acre, Rondônia, Pará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e oeste de Minas Gerais.

Os reservatórios do Sistema Cantareira e das Usinas Hidrelétricas (UHEs) Três Marias (rio São Francisco) e Serra da Mesa (rio Tocantins), em 30 de setembro de 2020, apresentaram armazenamento de 42%, 67%, e 32%, respectivamente. Neste mês, o Sistema Cantareira recebe destaque por registrar a maior extração de água desde a crise de 2014/2015. Considerando um cenário hipotético de chuvas na média histórica, a projeção de vazão afluente média a estes reservatórios, no trimestre OND, é de 72%, 82% e 100% da média, com redução do armazenamento no final de dezembro de 2020 para 41%, 58% e 25%, respectivamente. Com relação ao monitoramento das UHEs da região Sul, em Itaipu, a vazão afluente foi 80% da média histórica para o mês de setembro, representando o segundo menor valor do histórico para o mês. Destaca-se a UHE Rosana, no rio Paranapanema, com vazão mensal abaixo dos registros mínimos desde novembro de 2019. Além disto, os reservatórios das UHEs de Barra Grande, Segredo e Passo Real, apresentaram redução no nível de armazenamento.

Síntese do envio de alertas e registro de ocorrências no mês de agosto de 2020

Conforme verificado na Tabela 1, no mês de setembro de 2020 foram enviados pela Sala de Situação do Cemaden o total de 43 alertas para municípios monitorados, com destaque para a Região Sudeste (29 alertas)[1]. Em relação às ocorrências registradas para o período, estas se concentraram na região Sudeste, com 5 eventos de risco geológicos e 5 eventos de risco hidrológico.

Tabela 1 – Alertas enviados e ocorrências registradas nas diferentes regiões do Brasil no mês de setembro de 2020.

[1] Informações adicionais sobre o envio de alertas e o registro de ocorrências são apresentadas no Boletim Trimestral da Sala de Situação, disponível em http://www2.cemaden.gov.br/.

RISCO HIDROLÓGICO: Situação atual e previsão sazonal para os principais rios do Brasil

A situação atual dos níveis dos principais rios do Brasil em relação a climatologia sazonal da estação de medição, em termos de percentis[2], é apresentada na Figura 1. Observa-se que na região central do Brasil e oeste da Região Sul, os níveis dos rios encontram-se com valores abaixo da média para o período. Isso pode estar associado ao baixo volume pluviométrico que ocorre climatologicamente, no mês setembro na região Central do Brasil e, principalmente, às chuvas inferiores à média registradas desde o mês de maio. Por outro lado, no leste da Região Sudeste e do Nordeste do País, verificam-se várias estações com níveis dos rios na média ou acima da média climatológica para essa época do ano.

Figura 1 – Situação dos níveis dos rios no Brasil na data de 05/10/20 em relação a climatologia sazonal da estação de medição em termos de percentis.

[2] O valor refere-se ao estimado a partir de histórico diário referente a cada dia do ano hidrológico regional. Estações de medição assinaladas com percentis mais elevados (em tons de azul) representam regiões onde o nível do rio está acima da média climatológica do período. Não indica necessariamente o transbordamento do rio, mas indicam um estado de atenção. Por outro lado, estações assinaladas com valores de percentis mais baixos (em tons de vermelho) indicam regiões onde o nível do rio está abaixo do esperado para essa época do ano.

A previsão sazonal para o trimestre de OND pelo modelo Global Flood Awareness System (GloFAS), indica probabilidade superior a 75% de ocorrência de vazões superiores à média nos rios localizados entre os estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso e parte de Rondônia, além do norte do Mato Grosso do Sul, centro-sul de Minas Gerais, oeste e faixa costeira do Nordeste brasileiro. Em contrapartida, no Sul do Brasil e oeste da região Amazônica a previsão indica probabilidade acima de 75% para que a vazão dos rios apresente valor abaixo da média climatológica para o período.

Vale destacar que o modelo GloFAS apresenta tendência de vazões acima da média para o Rio Madeira, no trecho de Porto Velho-RO, desde meados de outubro até o final de dezembro  (associado a previsão climática de chuvas acima do normal para o estado de Rondônia), exigindo atenção durante esse trimestre.

IMPACTOS DA SECA NA VEGETAÇÃO E NA AGRICULTURA

Índice Integrado de Seca (IIS): observado no mês de setembro de 2020 e cenários para o mês de outubro de 2020 em todo o Brasil

Se comparado ao mês de agosto, o índice IIS-6 para o mês de setembro (Figura 2a), na região Norte indicou desintensificação da seca principalmente em parte dos estados do Pará, Rondônia e Amazonas. Na Região Nordeste, houve intensificação da seca nos estados do Maranhão, Piauí e oeste de Pernambuco. Na Região Sudeste, o destaque permanece para o estado de São Paulo e sudoeste de Minas Gerais, onde o IIS-6 apontou condições de seca variando entre moderada a extrema. Com relação à Região Centro-Oeste, está ainda é a mais crítica do Brasil quanto à intensificação da seca, em especial, para o Bioma Pantanal. Informações adicionais sobre as condições de secas e queimadas no Pantanal estão disponíveis no link: http://www2.cemaden.gov.br/impactos-de-extremos-de-secas-e-fogo-no-bioma-pantanal-setembro2020/.

A descrição da estimativa do IIS, bem como mais detalhes sobre a avaliação dos impactos de secas para o mês de setembro, pode ser consultada no Boletim de Monitoramento de Secas e Impactos no Brasil (http://www2.cemaden.gov.br/monitoramento-de-secas-e-impactos-no-brasil-setembro2020/).

Figura 2 – Índice Integrado de Seca (IIS) para todo o Brasil, observado no mês de setembro de 2020 (a) e projeções para o mês de outubro de 2020, considerando um cenário de chuvas 30% abaixo (b) e 30% acima da climatologia (c).

Registro de Impactos na Produção Agrícola

No mês de setembro de 2020, houve redução na produtividade do milho 2ª safra em São Paulo (redução superior a 17% em relação à safra anterior) e no Paraná (5.012 kg/ha – abaixo da obtida na safra anterior, 6.004 kg/ha), conforme informações do Boletim da Safra de Grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Atraso no plantio da safra 2020/21 de soja tem sido observado em diversos estados, como Mato Grosso, Paraná e São Paulo, havendo a possibilidade de diminuição da janela de plantio do milho 2ª safra, após à colheita da soja, segundo informações do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja MT) e do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral). Além disso, no estado do Paraná, a escassez de chuvas tem dificultado o plantio de outras culturas, como a da mandioca, a qual também apresentou problemas com a colheita em decorrência das condições de solo muito seco.

As condições de seca favoreceram, ainda, a ocorrência de queimadas no Bioma Pantanal. O mês de setembro de 2020 correspondeu ao mês em que houve o maior número de focos de incêndios registrados no bioma, desde 1998, cuja fumaça transportada na atmosfera alcançou estados das regiões Sudeste e Sul do Brasil, conforme informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Estas queimadas também atingiram áreas agrícolas cobertas com palhada para o plantio direto, prejudicando diversas lavouras, segundo a Aprosoja MT.

IMPACTOS DA SECA NOS RECURSOS HÍDRICOS

Sistema Cantareira

O Sistema Cantareira – sistema que abastece parte da região metropolitana de São Paulo – atingiu 41,5% de seu volume útil em 30 de setembro de 2020 (Figura 3), valor inferior ao observado no mesmo período de 2019 (47%). No mês de setembro, a precipitação acumulada na bacia foi 30% da média histórica, enquanto a vazão afluente representou 25% da média histórica do mês.

Em um cenário hipotético de chuvas na média histórica, o modelo hidrológico PDM/Cemaden[3] projeta uma vazão afluente de, aproximadamente, 72% da média histórica para o trimestre OND/2020. Ainda considerando este mesmo cenário de chuvas, o volume útil armazenado, em 31 de dezembro de 2020,  ficará em torno do valor atual, permanecendo na faixa de operação “Atenção”.

Figura 3 – Histórico e cenários (outubro a dezembro de 2020) de armazenamento (%) no Sistema Cantareira. As faixas coloridas indicam os limites operacionais estabelecidos na Resolução conjunta ANA/DAEE N° 925.

[3] O PDM/Cemaden é um modelo probabilístico baseado na umidade do solo e utiliza como entradas a precipitação e a evapotranspiração potencial para estimar a vazão.

Para maiores informações, consulte o Boletim da Situação atual e projeção hidrológica para o Sistema Cantareira – Setembro de 2020 (http://www2.cemaden.gov.br/situacao-atual-e-projecao-hidrologica-para-o-sistema-cantareira-30092020/).

Reservatório da UHE Três Marias, Bacia do Rio São Francisco

Na bacia afluente à Usina Hidrelétrica (UHE) Três Marias, no alto São Francisco, no mês de setembro, choveu 15% da média histórica e a vazão foi 67% da média para este período. O armazenamento no reservatório atingiu 67% em 30 de setembro de 2020, valor superior ao registrado no mesmo período de 2019 (61%).

De acordo com as projeções hidrológicas para o trimestre OND de 2020, apresentadas na Figura 4a, em um cenário hipotético de chuvas na média histórica, a vazão natural poderá atingir cerca de 82% da média, e o reservatório poderá atingir, aproximadamente, 58% do volume útil no final de dezembro de 2020, finalizando o trimestre na faixa de operação “Atenção” (entre 30% a 60% de armazenamento).

Figura 4 – Histórico e projeções (outubro a dezembro de 2020) de vazão natural média mensal (m³/s) aos reservatórios das UHEs (a) Três Marias e (b) Serra da Mesa.

Reservatório da UHE Serra da Mesa, Bacia do Rio Tocantins

Na bacia afluente Usina Hidrelétrica (UHE) Serra da Mesa, no alto do Rio Tocantins, em setembro de 2020, choveu 24% da média histórica do período. A vazão natural, em setembro, foi 85% da média histórica para o mês. O reservatório operou com 32% de armazenamento em 30 de setembro de 2020, valor superior ao observado no mesmo período de 2019 (18%).

Segundo as projeções hidrológicas para o trimestre OND de 2020, apresentadas na Figura 4b, em um cenário hipotético de chuvas na média histórica, a vazão ficará aproximadamente na média do período e, o reservatório poderá atingir 25% do volume útil no final de dezembro de 2020.

Maiores informações podem ser encontradas no Boletim da Situação Atual e Projeção Hidrológica para o Reservatório Serra da Mesa – Setembro de 2020 (http://www2.cemaden.gov.br/situacao-atual-e-projecao-hidrologica-para-o-reservatorio-de-serra-da-mesa-bacia-do-rio-tocantins-05102020/).

Região Sul do Brasil

Em grande parte das UHEs da região sul tem-se observado déficit de chuvas há alguns meses, com redução na vazão dos rios, o que tem resultado em valores negativos dos índices hidrológicos. Consequentemente, ocorreu uma severa diminuição no nível de armazenamento dos reservatórios, causando impactos na geração de energia elétrica e no abastecimento de água, principalmente no estado do Paraná.

Na bacia hidrográfica da usina hidrelétrica de Itaipu, localizada no Rio Paraná – Santa Catarina, uma das maiores hidrelétricas do mundo, a vazão afluente foi 80% da média histórica, representando o segundo menor valor do histórico para o mês de setembro. Destaca-se a UHE Rosana, no rio Paranapanema, com vazão mensal abaixo dos registros mínimos desde novembro de 2019. Na bacia hidrográfica afluente à UHE Segredo, localizada no Rio Iguaçu, o indicador hidrológico de vazão afluente dos últimos 12 meses indica seca excepcional. A UHE Barra Grande, no rio Uruguai e UHE Passo Real, localizada no Rio Jacuí – RS, apresentaram redução na vazão afluente atingindo 48% e 82% da média histórica mensal, e os indicadores hidrológicos dos últimos 12 meses indicam situação de seca severa e normalidade, respectivamente. Com relação ao nível de armazenamento, os reservatórios das UHEs Segredo, Barra Grande e Passo Real apresentaram redução em relação ao mês anterior, atingindo 28%, 36% e 77% no final de setembro, respectivamente.

IMPACTOS DOS EXTREMOS PLUVIOMÉTRICOS NA AGRICULTURA E HIDROLOGIA: SETEMBRO/2020

[4] A sigla MLT significa Média de Longo Termo ou, em outras palavras, média que representa a situação observada por longo período, geralmente igual ou maior que 30 anos.

IMPACTOS DOS EXTREMOS PLUVIOMÉTRICOS NA AGRICULTURA E HIDROLOGIA: POSSÍVEIS CENÁRIOS

Diretor do Cemaden: Osvaldo Luiz Leal de Moraes

Coordenador Responsável: José A. Marengo

Revisores Científicos desta Edição: Adriana Cuartas, Ana Paula Cunha

Colaboradores: Adriana Cuartas, Ana Paula Cunha, Conrado Rudorff, Daniela França, Elisângela Broedel, Fabiani Bender, Karinne Deusdará-Leal, Lidiane Costa, Marcelo Seluchi, Marcelo Zeri, Márcio Moraes, Paula Paes, Rafael Luiz, Valesca Fernandes, Vinicius Sperling

NOTAS IMPORTANTES:

1. Os relatórios com informações mais detalhadas sobre a situação atual das principais reservas hídricas e condições de seca em todo o País, bem como as projeções hidrológicas e possíveis cenários de impactos da seca, encontram-se disponíveis e atualizados no Website do Cemaden (https://www2.cemaden.gov.br).

 2. As informações/produtos apresentados não podem ser usados para fins comerciais, copiados integral ou parcialmente para a reprodução em meios de divulgação, sem a expressa autorização do Cemaden/MCTI e dos demais órgãos com os quais o Cemaden mantém parcerias. Os usuários deverão sempre mencionar a fonte das informações/dados da instituição como sendo do Cemaden/MCTI. Ressaltamos que a geração e a divulgação das informações/produtos consideram critérios de qualidade e consistência dos dados.

 3. Registramos, ainda, que os dados da rede de monitoramento de desastres naturais disponibilizados via Mapa Interativo no website do Cemaden não passaram por nenhum tratamento, portanto poderá haver inconsistências nesses dados.

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