Capa » Monitoramento » Boletim de Impactos » Boletim de impactos em áreas estratégicas para o Brasil – 13/05/2019

Boletim de impactos em áreas estratégicas para o Brasil – 13/05/2019

SUMÁRIO

A décima edição do boletim mensal de previsão de impactos em atividades estratégicas para o Brasil, elaborado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), apresenta os cenários mais prováveis de impactos em diferentes setores do Brasil, tanto nos recursos hídricos como na vegetação e agricultura familiar de sequeiro para o semiárido, no decorrer do trimestre maio, junho e julho de 2019 (MJJ/2019). Também são abordadas a situação atual e as projeções de vazões afluentes aos reservatórios do Sistema Cantareira, Três Marias e Serra da Mesa, bem como os possíveis cenários para os volumes armazenados nos açudes monitorados no semiárido da Região Nordeste: Castanhão e Boqueirão, no decorrer do referido trimestre. Na Região Norte, destacou-se a diminuição do nível do rio Madeira e o início do processo de vazante.

A situação de armazenamento do reservatório do Sistema Cantareira (58,7%), em 30 de abril, é superior à situação do ano anterior. Em um cenário hipotético de chuvas na média climatológica, o modelo hidrológico projeta que a vazão afluente ficará abaixo da média no decorrer do próximo trimestre (82% da MLT[1]) e o armazenamento no sistema final de julho de 2019 ficará em torno de 58% (faixa de operação “atenção” – 40% a 60%), situação melhor quando comparada ao mesmo período de 2018 (38% de armazenamento). Já para a bacia afluente ao reservatório Três Marias, o modelo hidrológico projeta uma vazão em torno de 90% da Média de Longo Termo (MLT), situação mais otimista quando comparada ao mesmo trimestre MJJ/2018 (36% da MLT). Para a bacia afluente ao reservatório Serra da Mesa, o modelo hidrológico projeta uma vazão próxima a 83% da MLT, situação melhor ao apresentado no trimestre MJJ/2018 (64% da MLT).

De acordo com o Índice Integrado de Seca (IIS), considerando um cenário de chuva 20% abaixo do esperado para o trimestre MJJ, grande parte da Região Centro-Oeste e os Estados de São Paulo e Paraná podem ser os mais afetados pelo déficit hídrico. Mesmo no cenário em que a precipitação acumulada para o próximo trimestre atingisse 20% acima da média climatológica, tais regiões continuariam em situação de atenção. Com relação à agricultura de sequeiro, os municípios que estarão no período de plantio entre os meses de maio e junho são aqueles inseridos nas regiões Agreste e Zona da Mata. Em ambos os cenários de chuva, a situação para a produção agrícola nessas regiões é mais favorável do que nos anos anteriores.

[1] A sigla MLT significa Média de Longo Termo ou, em outras palavras, média que representa a situação observada por longo período, geralmente igual ou maior que 30 anos.

ASSISTA NO YOUTUBE

IMPACTOS EM HIDROLOGIA

Evolução do Armazenamento no Sistema Cantareira

Figura 1 – Projeção da evolução do volume armazenado (%) no Sistema Cantareira, considerando a interligação Paraíba do Sul-Sistema Cantareira, de maio a setembro/2019. As faixas coloridas indicam os limites operacionais estabelecidos na Resolução conjunta ANA/DAEE N° 925.

 

O Sistema Cantareira – sistema que abastece parte da região metropolitana de São Paulo – atingiu 58,7% de seu volume útil em 30 de abril de 2019 (Figura 1), valor superior ao observado em 30 de abril de 2018 (51,2%). A vazão média afluente aos reservatórios do Sistema Cantareira atingiu o valor de 36,6 m³/s, aproximadamente 84% da média para o mês de abril (43,5  m3/s). Nesta bacia, a precipitação foi de 152 mm em abril de 2019, representando um valor de 78% acima da climatologia (1983-2018: 85 mm). Em um cenário de chuvas na média, o modelo hidrológico PDM/Cemaden[1] projeta que a vazão afluente média para o trimestre MJJ será em torno de 82% da MLT. Ainda considerando este mesmo cenário de chuvas, o volume útil armazenado poderá atingir valores em torno de 58% em 31 de julho de 2019, considerando a interligação com a bacia do rio Paraíba do Sul. Se essa interligação fosse desconsiderada, o volume útil poderia atingir valores em torno de 53%. Com este nível de armazenamento, a extração de água máxima permitida para o elevatório Santa Inês é de 31 m³/s. Esta simulação[2] considerou: (i) vazões afluentes simuladas pelo modelo hidrológico PDM/Cemaden; (ii) vazões defluentes para a bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí iguais às médias praticadas entre os anos de 2014 e 2016 (nov-mar = 1,55 m³/s); (iii) vazão de extração para o Elevatório Santa Inês (abastecimento de São Paulo) de acordo com a resolução conjunta ANA/DAEE Nº 925; e (iv) interligação com a bacia do Rio Paraíba do Sul com vazão média de 6,8 m³/s, de acordo com a Nota Técnica Mar106/2019 da SABESP.

[2] O PDM/Cemaden é um modelo probabilístico baseado na umidade do solo e utiliza como entradas a precipitação e a evapotranspiração potencial para estimar a vazão.

[3] Para mais informações no que se refere à elaboração das projeções hidrológicas, consultar o Website do Cemaden:
http://www2.cemaden.gov.br/categoria/monitoramento/monitoramento-hidrologico/relatoriocantareira/

Reservatório de Três Marias, Bacia do Rio São Francisco

A vazão média afluente ao reservatório de Três Marias, no alto São Francisco, atingiu o valor de 459 m³/s, aproximadamente 68% da média para o mês de abril (673 m3/s). Nesta bacia, a precipitação foi de 98 mm em abril de 2019, representando um valor de 55% acima da climatologia (1983-2018: 63 mm). De acordo com as projeções hidrológicas para o período de MJJ/2019, apresentadas na Figura 2, em um cenário hipotético de chuvas na média climatológica, a vazão afluente poderá atingir cerca de 90% da média histórica (325 m³/s, MLT: 1983-2018).

Reservatório de Serra da Mesa, Sistema Araguaia-Tocantins

Na Região Centro-Oeste, a vazão média afluente ao reservatório de Serra da Mesa, no alto do Rio Tocantins, foi de 941 m³/s, aproximadamente 3% acima da média histórica para o mês de abril (912 m3/s). Em abril de 2019, a precipitação foi de 164 mm nesta bacia, representando um valor de 58% acima da climatologia (1983-2018: 104 mm). Segundo as projeções hidrológicas para o período MJJ/2019, apresentadas na Figura 3, em um cenário hipotético de chuvas na média climatológica, a vazão afluente ficará em torno de 83% da média histórica (378 m³/s, MLT: 1983-2018).

Figura 2 – Cenários de vazão natural média mensal (m³/s) ao reservatório de Três Marias, de maio a setembro/2019.
Figura 3 – Cenários de vazão natural média mensal (m³/s) ao reservatório de Serra da Mesa, de maio a setembro/2019.

Projeções das Reservas Hídricas de Açudes Monitorados do Semiárido Brasileiro

O açude Castanhão (Ceará), o maior da Região Nordeste, operou com 5,4% de seu volume útil no dia 3 de maio de 2019 (Figura 4), situação mais crítica quando comparada ao mesmo período de 2018 (8,6%). As projeções indicam que o volume armazenado nesse reservatório poderá atingir cerca de 5,0% de sua capacidade no final de julho/2019, valor menor que o atual. Entretanto, esta simulação não considera eventuais armazenamentos em açudes menores na sua bacia de captação, o que pode alterar a presente simulação. O reservatório Epitácio Pessoa/Boqueirão (Paraíba) operou com 26,1% de seu volume útil no dia 01 de maio de 2019 (Figura 5), situação menos favorável que no mesmo período de 2018 (35,4%). As projeções para o reservatório Epitácio Pessoa/Boqueirão indicam que, mantendo-se as extrações atuais e considerando os aportes do Rio São Francisco (SF) e um cenário de precipitação na média climatológica, o armazenamento de água, deverá apresentar, no final de julho de 2019, cerca de 30% da sua capacidade total. Ressalta-se que estes cenários podem ser alterados devido a mudanças na vazão da transposição e/ou na extração de água para o abastecimento público.

Figura 4 – Projeção da evolução do volume armazenado (%) no reservatório Castanhão para o trimestre MJJ/2019.
Figura 5 – Projeção da evolução do volume armazenado (%) no reservatório Boqueirão para o trimestre MJJ/2019.

Previsões de Vazão para a Bacia do Rio Madeira

O nível rio Madeira ainda se encontra acima da cota de atenção na estação Porto Velho (ANA), porém o seu nível diminuiu significativamente, ficando abaixo da cota de alerta e indicando que o rio iniciou seu processo de vazante (recessão) em abril.

IMPACTOS NA VEGETAÇÃO E AGRICULTURA DE SEQUEIRO

Projeção dos Impactos da Seca em todo o Brasil no Trimestre MJJ/2019

De modo geral, o cenário do Índice Integrado de Seca (IIS) mostra que as condições de déficit hídrico, podem se agravar no decorrer do próximo trimestre, principalmente na Região Centro-Oeste e no Estado de Roraima. Para a Região Nordeste,  a  condição  de seca observada no mês de abril, no sul do Maranhão, deve ser amenizada nos próximos meses. Por outro lado, no sul do da Bahia, deve se manter a condição de estresse vegetativo.

Figura 6 – Cenários projetados de possíveis impactos da seca em todo o Brasil para o trimestre MJJ/2019, utilizando o Índice Integrado de Seca (IIS).

 

Projeção dos Impactos da Seca na Agricultura Familiar de Sequeiro

O calendário de plantio está diretamente associado ao início da estação chuvosa em cada sub-região. De acordo com o calendário do Garantia Safra (Resolução 3, de 05 de agosto de 2010), o período de plantio para a região destacada na Figura 7 (Agreste e Zona da Mata) ocorre entre os meses de março e junho. Segundo as projeções simuladas através do IIS – que considera dados atualizados de sensoriamento remoto e projeções de chuva – em cenário de chuva abaixo do esperado, os municípios localizados principalmente ao sul do Bahia poderão apresentar condição de seca moderada no trimestre MMJ/2019. Nessas condições, poderá haver redução da produção agrícola de sequeiro.

Figura 7 – Impactos da seca na agricultura de sequeiro, de acordo com o Índice Integrado de Seca (IIS), para o mês de abril de 2019 (a) e projeções para o trimestre MJJ/2019, considerando um cenário de chuvas 20% abaixo (b) e 20% acima da climatologia (c). Municípios com calendário de plantio entre os meses de fevereiro a abril estão desenhados nos mapas.

 

[4] Explicações mais detalhadas acerca da metodologia utilizada para o cálculo do Índice Integrado de Seca (IIS) estão descritas no final desta edição.

NOTAS EXPLICATIVAS

Índice Integrado de Seca (IIS)

O Índice Integrado de Seca (IIS) consiste na combinação do Índice de Precipitação Padronizada (SPI) com o Índice de Suprimento de Água para a Vegetação (VSWI) ou com o Índice de Saúde da Vegetação (VHI), ambos estimados por sensoriamento remoto. O SPI é um índice amplamente utilizado para detectar a seca meteorológica em diversas escalas temporais e pode ser interpretado como o número de desvios padrões nos quais a observação se afasta da média climatológica. Um valor negativo de SPI representa condições de déficit hídrico, nas quais a precipitação é inferior à média climatológica. Um valor positivo de SPI representa condições de excesso hídrico, que indicam precipitação superior à média histórica. Para integrar o IIS, o SPI é calculado a partir de dados observacionais de precipitação disponíveis no CEMADEN, no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Centros Estaduais de Meteorologia.

Para a compilação do IIS, os dados de SPIs, na escala de 6 meses, e o VSWI ou VHI são reclassificados e compatibilizados de forma que as classes de ambos os índices traduzam as mesmas intensidades de seca, as quais variam de fraca à excepcional.  O IIS é calculado mensalmente e apresentado com diferentes classes para as intensidades de seca.

Índice de Suprimento de Água para a vegetação (VSWI)

O VSWI é calculado a partir do Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI, sigla em inglês) e da temperatura da superfície, ambos do sensor MODIS a bordo dos satélites Terra e Aqua, disponibilizadas pelo Earth Observing System (EOS/NASA). O VSWI indica condição de seca quando o valor do NDVI é baixo (baixa atividade fotossintética) e a temperatura da vegetação é alta (estresse hídrico). Portanto, o índice é inversamente proporcional ao conteúdo de umidade do solo e fornece uma indicação indireta do suprimento de água para a vegetação.

Índice de Saúde da Vegetação (VHI)

O VHI é calculado a partir do Índice de Condição da Vegetação (VCI) e do Índice da Condição da Temperatura (TCI). O VCI é a normalização do NDVI, utilizado para avaliar a densidade da vegetação em relação às condições padrões, permitindo verificar a variabilidade espacial e temporal das condições da vegetação, assim como quantificar o impacto dos eventos extremos.  O TCI é considerado um indicador de estresse térmico. A umidade do solo é reduzida em um evento de seca, causando estresse térmico na vegetação. O TCI permite identificar mudanças sutis na saúde da vegetação devido a efeitos térmicos. À medida que a seca se intensifica, a umidade do solo é reduzida causando o aumento da temperatura de brilho.

Diretor do Cemaden: Osvaldo Luiz Leal de Moraes

Coordenador Responsável: José A. Marengo

Revisor Científico desta Edição: José A. Marengo

Colaboradores: Adriana Cuartas, Ana Paula Cunha, Anna Bárbara Coutinho de Melo, Elisângela Broedel, Germano Neto, Karinne Deusdará-Leal, Lidiane Costa, Marcelo Seluchi, Márcio Moraes

NOTAS IMPORTANTES:

1. Os relatórios com informações mais detalhadas sobre a situação atual das principais reservas hídricas e condições de seca em todo o País, bem como as projeções hidrológicas e possíveis cenários de impactos da seca, encontram-se disponíveis e atualizados na Website do Cemaden (https://www2.cemaden.gov.br).

 2. As informações/produtos apresentados não podem ser usados para fins comerciais, copiados integral ou parcialmente para a reprodução em meios de divulgação, sem a expressa autorização do Cemaden/MCTIC e dos demais órgãos com os quais o Cemaden  mantém  parcerias. Os usuários deverão sempre mencionar a fonte das informações/dados da instituição como sendo do Cemaden/MCTIC.

 3. Ressaltamos que a geração e a divulgação das informações/produtos consideram critérios de qualidade e consistência dos dados. Registramos, ainda, que os dados da rede de monitoramento de desastres naturais disponibilizados via Mapa Interativo no website do Cemaden não passaram por nenhum tratamento. Logo, poderá haver inconsistências nesses dados.

Confira também

MONITORAMENTO DE SECAS E IMPACTOS NO BRASIL – SETEMBRO/2021

A. ÍNDICE INTEGRADO DE SECA (IIS) PARA O BRASIL:  SETEMBRO/2021 Índice Integrado de Seca (IIS) …